Em 1936, o historiador Sérgio Buarque de Holanda
dedicou um dos capítulos do seu livro Raízes do Brasil ao estudo do chamado
“homem cordial”. Mas o que ele queria dizer ao definir o caráter do brasileiro
assim? De acordo com Holanda, e estamos falando de uma percepção que já tem
mais de oitenta anos, o “brasileiro cordial” tem a propensão para sobrepor as
relações familiares e pessoais às profissionais ou públicas. Em outras
palavras, a malandragem tupiniquim nada mais é do que deixar de pensar no todo
para nos beneficiar ou favorecer nossos familiares e amigos.
E esse conceito de Buarque de Holanda continua
atual, mesmo com o passar das décadas. Vivemos num país que levar vantagem
parece ser o objetivo de muitos. Essa maléfica imagem ganhou reforço nos
anos setenta quando um craque da seleção canarinho estrelou como garoto
propaganda de um cigarro com a mensagem de que era importante “levar vantagem
em tudo”, custe o que custar.
Infelizmente essa mentalidade está presente também
na política tributária dos governos, os quais gestão a gestão vem aumentando a
carga de maneira silenciosa, apenas omitindo reajustes básicos. Pelo fato
do Brasil ter inflação, as tabelas que definem as alíquotas dos impostos
deveriam ser atualizadas automaticamente. Mas isso não ocorre.
E aqui a malandragem lança mão de outra artimanha
bem conhecida e usual dos brasileiros: a burocracia! Para as tabelas serem
atualizadas precisam passar por inúmeras discussões no legislativo. Isso mesmo,
a simples reposição das perdas inflacionárias é foco de desnecessários
debates e articulações políticas para, por fim, passar por votação.
As defasagens são absurdas. A mais conhecida e
danosa é a da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física, que atinge todos
trabalhadores do Brasil. São quase 90% de defasagem! Essa malandragem coloca
indevidamente mais de 42 bilhões de reais todo ano nos cofres públicos, impede
a economia de crescer 0,2% e ainda suprime 240 mil postos de trabalho ao ano.
Precisamos exterminar essa cultura, começando a dar exemplo nós mesmos. Não seja um “homem cordial”, como definiu o professor Holanda. Pense no todo, antes de olhar para o seu umbigo ou acobertar equívoco de alguém próximo. E vamos cobrar das autoridades, que nos arrocham com regras tributárias que não favorecem a geração de emprego e o avanço da economia. Chega de malandragem!
De: Diogo Chamun - Presidente Sescon RS
Fonte: SESCON-RS